Mais um nome da já moribunda MPB deixou a vida.
Vander Lee, mineiro com apenas 50 anos, faleceu depois de sofrer várias paradas cardíacas e passar por uma cirurgia.
A gente fala da crise na MPB e o pessoal não acredita.
O pessoal pensa que a música brasileira vai bem com suas maçonarias musicais.
Com a filha do advogado cantando covers de MPB em festinhas de socialite.
Com o tresloucado branquela de cabelo black power fazendo um sambalanço ruim com influências eletrônicas em que o DJ apenas "esfrega a mão" na vitrola.
Ou com a feiosa popcreta que fala mal de namorados, faz escândalo, polemiza demais, mas se esquece do principal, a música.
Vander Lee não é como os "emepebistas de fim de feira", que fazem um pop adulto insosso cantado em português.
Era um dos últimos criadores emepebistas de verdade.
Numa época em que os incautos pensam que aqueles "sertanejos" e "pagodeiros" que falavam de baratas, tapas, beijos, brincadeiras de criança, pimpolhos e cervejas nos anos 90 são "a verdadeira MPB".
Houve gente até querendo pegar carona nas saudades de Vander Lee.
César Menotti, da dupla breganeja César Menotti & Fabiano, que nunca passaram de cópia descarada do já péssimo Bruno & Marrone, foi um deles.
Logo os "sertanejos" que contribuíram para dificultar o acesso da MPB autêntica ao grande público.
O brega-popularesco cresceu tanto que causa até estranheza nos gringos.
Ao saber que a cantora Anitta vai abrir as cerimônias das Olimpíadas Rio 2016, muitos estrangeiros estranharam.
"Eu gosto, mas não é música brasileira", disse uma turista alemã.
O brega-popularesco foi a americanização da música brasileira.
Já liquidou de vez com a chance de termos novos Donga e Luiz Gonzaga, Cartola e Jackson do Pandeiro, novos Martinho da Vila e Elza Soares.
Os novos "artistas populares" que repercutem nas rádios fazem tudo.
Se casam e se divorciam, xingam a ex-mulher, falam de impotência sexual, palpitam sobre crise política, criam confusão num aeroporto, posam com pouca roupa no Instagram.
Só não fazem música.
E se acham geniais porque fazem covers de sucessos da MPB que eles pescaram de uns macetes trazidos por seus produtores e arranjadores.
Diante dessa indigência musical, o falecimento de Vander Lee só é um soco no estômago emepebista.
Se ele sofria de arritmia cardíaca, a MPB como um todo continua sofrendo.
Não dá para fingir que estamos num ótimo cenário cultural.
Não dá para fingir, pela enésima vez, que excêntricos cabeludos que veem a provocatividade como um fim em si mesmo irão salvar a MPB.
Da mesma forma que carneirinhos musicais como Tulipa Ruiz, Marcelo Jeneci e Tiago Iorc não vão.
Também não dá para fingir que a MPB está em alta com sucessivos tributos saudosistas.
Gente que fica o tempo todo revisitando o passado, sem dar sangue renovado na criação autoral.
Achar que revisitar antigos clássicos da MPB basta para renová-la é inútil.
Mas também é inútil ver novos talentos da MPB tocando para poucos.
Seja em canais da TV paga que nem 1/3 de seus fãs conhece, seja em festas para umas quinze pessoas.
Maçonaria Privativa Brasileira não ajuda a renovar a MPB.
Até porque sempre tivemos MPB para poucos, ir a um boteco e ver um emepebista aplaudido por todos os presentes não diz muito, pois o grande público o desconhece.
E além disso, Vander Lee foi um notável criador musical, com estilo próprio.
Com sua morte, perde-se mais um talento entre tantos.
Diante de anittas e safadões ou mesmo do puxa-saquismo que os menottis e marrones fazem à MPB, a música brasileira de qualidade precisa renovar todo seu sangue.
Talvez fosse preciso criar uma verdadeira quimioterapia para tirar o sangue podre do comercialismo das rádios e TVs.
Talvez fosse preciso repensar a MPB não como um tributo saudosista nem como uma complacência à breguice, mas uma renovação de linguagens e propostas musicais.
A MPB pede socorro, nesse cenário político temeroso.
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