Depois do discurso de Dilma Rousseff, evidentemente o clima azedou no Senado Federal.
Hoje o dia foi de discursos das testemunhas de defesa e dos senadores.
Se aproxima a data de votação, que será amanhã, e, apesar da grandeza de Dilma, firme e segura em sua defesa e respondendo as perguntas dos senadores, tudo conspira contra ela.
O mundo está assustado. O Le Monde chegou a escrever, sobre o impeachment: "se não for golpe, é uma farsa".
Deveria haver um clima de apreensão, de perplexidade, entre os brasileiros.
Mas, só percebendo o Rio de Janeiro, Niterói ou São Paulo, as pessoas parecem mais tranquilas.
Há até mesmo um sentimento de alegria masoquista. De gente que não se importa sequer de ver um caminhão de lixo fedorento passando por um restaurante exalando sua poluição tóxica nos alimentos.
Gente feliz por nada e satisfeita por pouca coisa, desprevenida diante do que vem por aí.
Há gente se manifestando contra o governo de Michel Temer, sim.
Mas também houve violenta repressão policial.
Tempos muito, muito sombrios estão à espera.
E as pessoas tão felizes.
Como num dia de sol que termina com trovoadas, céu de nuvens castanhas, raios, chuva e fortes ventos.
Num dia assim, manhãs de sol parecem prenunciar dias tranquilos.
Mas terminam com violenta tempestade. Às vezes a pessoa que mergulha feliz na água da praia é a que vai morrer eletrocutada na água da enchente num temporal com trovoadas.
Se bem que o governo Temer nem deu sinais de "manhã de sol".
Desde maio são só nuvens cinzentas e ventos preocupantes, com alguns raios e trovões.
E aqui temos um dado curioso.
Enquanto Michel Temer se acovarda diante do público das Olimpíadas Rio 2016, Dilma Rousseff, mesmo sob pressão, encara o Senado Federal que quer expulsá-la do poder.
Temer, querendo ser presidente efetivo, correndo acovardado pelas vaias do público da Rio 2016.
Dilma, linchada pela oposição, indo de cabeça erguida para encarar os senadores pró-impeachment, e, mesmo sabendo que poderá perder, fez um grande discurso.
Ela até causou um impacto, como um tremor de terra, entre os senadores oposicionistas.
Mas depois eles tinham que voltar com suas mesquinharias.
Aloysio Nunes Ferreira, senador tucano que sepultou seu passado esquerdista e apagou da mente o pesadelo ditatorial que matou seu amigo Carlos Marighella, tentou questionar a acusação de que o impeachment é golpe.
Os senadores de oposição a Dilma mantiveram seu voto contra a presidenta afastada.
Difícil será reverter o quadro. A pressão contra Dilma é quase irreversível.
Houve o teatro de Janaína Paschoal, jurista que pediu o impeachment, que praticamente disse "sentir muito" pelos netos de Dilma por causa do afastamento da primeira mulher presidenta do país.
E houve o jurista Miguel Reale Jr., que assinou com Janaína e Hélio Bicudo o pedido de 2015, que definiu a política do PT como "malandragem".
O advogado de Dilma Rousseff, José Eduardo Cardozo, chorou em entrevista a jornalistas depois de ter dado um discurso dizendo, entre outras coisas, que a História deverá pedir desculpas à presidenta.
Ele sente o peso da derrota que a plutocracia quer para Dilma.
A votação de amanhã, se confirmar as sombrias expectativas, o Brasil entrará numa fase complicada.
As elites que irão apoiar oficialmente o governo Michel Temer, se efetivado, poderão até forjar algum otimismo, e dizer que "a hora é olhar para a frente".
Se bem que sabemos que a onda será "olhar para trás".
Será um cenário melancólico, em que apenas os privilegiados ficarão otimistas. Até que a manhã ensolarada do governo efetivado termine numa tempestade devastadora.
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