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LÁZARO RAMOS FAZ A DIFERENÇA NO BRASIL DE FERNANDO HOLIDAY


Felizmente vemos pessoas dotadas de muita lucidez, fora da órbita do Brasil temeroso.

O caso do elenco do filme Aquarius, com Sônia Braga à frente, as declarações de Wagner Moura e Gregório Duvivier, as charges de Laerte Coutinho e Carlos Latuff etc.

Gente que não faz coro a essa plutocracia psicopata que acha que direita roubando não é corrupção.

Houve o episódio, ontem, com o ator Lázaro Ramos recusando receber homenagem no Senado Federal.

Ele afirmou que o momento atual é de conscientização e não de homenagens, e ele sabe muito bem do que está falando.

Ele vê um quadro social e político caóticos, daí o seu desconforto diante da ideia de ser homenageado.

Lázaro, assim como sua esposa Taís Araújo, são pessoas dotadas de indiscutível consciência social, e isso não é fácil.

No Brasil em que os partidários de Fernando Holiday tomaram o poder à força, o casal é eventualmente vítima de comentários racistas. Taís foi vítima de uma campanha cruel de cyberbullying.

É a chamada "galera tudo de bom, da paz, nota 'deiz' (sic) e show de bola" que se autoproclamam os fascistas mirins que atuavam desde os tempos do Orkut.

No Facebook, eles fizeram ataques combinados contra Taís Araújo. Naquele roteiro conhecido de primeiro fazer ironias, depois gozações e depois ameaças.

Vários foram presos, uns foram soltos, mas todos de alguma forma estão com a ficha criminal suja.

É um Brasil reacionário que diz não ser racista, que acha negritude uma "bobagem" e, por isso, aplaude quando Fernando Holiday, o vereador eleito de SP, arrogantemente diz que acabar com o Dia da Consciência Negra é "combater o racismo".

Holiday usa um falso humanismo para defender o fim da data: quer substituir a "consciência negra" com a "consciência humana, de todos".

Acha que o Dia da Consciência Negra é vitimismo. Não é. É um grande dia cultural, que, embora evocasse uma história dolorosa, como o passado de escravidão, também celebra as conquistas e as qualidades do povo negro.

Se deixarmos, Holiday segue a carreira política como vereador e deputado paulista e, depois, deputado federal, e daí para pedir o fim do Dia da Independência é um pulo.

Holiday poderá dizer que o Brasil não deve "se discriminar" ante outros países americanos e defender que a subordinação dos EUA é que é demonstração de "civismo, brasilidade e panamericanismo".

Infelizmente, atitudes assim que combinam politicamente correto e politicamente incorreto favorecem a ocorrência de manifestações racistas.

Ou de um racismo politicamente correto que, à maneira de Holiday (que é negro), tenta classificar a negritude como um "racismo pelo avesso".

Rodrigo Constantino, ídolo dos "revoltados" que elegeram Holiday esculhambou uma empreendedora negra, Monique Evelle, só porque ela investiu numa loja cujas roupas e acessórios evocam a negritude e os modelos que as exibem também são negros.

Constantino chegou a argumentar que o racismo não existe e que as empresas é que "têm direito" de empregar somente pessoas brancas.

O que ele e seus consortes não sabem é que, quando os negros divulgam sua afirmação cultural, eles não estão fazendo vitimismo nem racismo pelo avesso, mas mostrando o que têm de positivo e edificante para a sociedade como um todo.

Não é uma segregação do outro lado, é uma divulgação de identidade cultural, uma forma de mostrar o quanto os negros contribuem de muito positivo para nossa sociedade.

É lamentável que, depois de anos de governos progressistas, tenhamos que ver a sociedade ultraconservadora ter retomado o poder à força.

A plutocracia, sobretudo juvenil, não estava satisfeita em falar suas asneiras em boates e botecos, e queriam bancar os "donos da verdade" nas mídias sociais, a ponto de humilhar discordantes.

Mas também não se satisfizeram em serem os "donos da verdade" nas mídias sociais, queriam ir para as ruas e pedir um governante à altura de suas mentes mesquinhas.

E isso deu no quadro social que faz Lázaro Ramos se sentir desconfortável com a premiação, com toda a consideração que tem ao também negro Abdias do Nascimento, já falecido, que deu nome ao prêmio do Senado Federal.

Além disso, como lembra muito bem Marcos Sacramento, do Diário do Centro do Mundo:

"Com um Senado habitado por elementos como Collor, Ronaldo Caiado, Magno Malta, Renan Calheiros e Aécio Neves, onde a Constituição foi aviltada pela conclusão do processo de impeachment da presidente Dilma, fica fácil compreender a negativa de Lázaro".

Ficamos com o texto enviado por Lázaro divulgada pelo senador Paulo Paim, do PT gaúcho:

"Abdias do Nascimento foi um homem que estava na trincheira da luta pelos direitos da população negra e menos assistida do país.

Tem uma história de luta que é referência para todos nós que queremos um país mais igualitário.

Neste momento não me sinto confortável e nem desejoso de nenhuma homenagem pois acho que o momento do país é de conscientização, de organização para compreender em que momento histórico estamos e quais passos precisamos dar para fazer com que a tão sonhada igualdade aconteça um dia de verdade.

Então, por esse motivo, recuso essa homenagem na esperança de que tenhamos consciência de que o importante não é o aplauso pelo que foi feito e sim o próximo passo a ser dado".

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