A chamada "cultura dos anos 90", movida pela catarse, pelo comercialismo e pela overdose muito mal digerida de informações, entrou oficialmente em declínio.
É o que mostra a profunda tristeza e desapontamento nos círculos intelectuais e no público nas mídias sociais.
A suposta diversidade de uma MPB só para ricos, as baixarias do sensacionalismo, o emburrecimento do mercado literário, o reacionarismo do rock e outros fenômenos lamentáveis derrubou qualquer utopia sonhada há cerca de 20 ou 25 anos.
Na cultura rock, o fim da Rádio Cidade, no Rio de Janeiro, com seu acúmulo de contradições e erros graves, é um exemplo.
Do ponto de vista dos empresários, a Rádio Cidade não conseguiu explicar seu projeto para os anunciantes, que agora admitem que rádio pop e rádio de rock não são a mesma coisa.
Do ponto de vista dos profissionais, os radialistas da Cidade não estavam aguentando fingir que eram roqueiros, mudando de dicção e tardiamente tentando falar como se fossem locutores da antiga Fluminense FM.
Do ponto de vista dos ouvintes, nem eles aguentaram a programação repetitiva só de hits roqueiros. Paciência, a Rádio Cidade sempre foi uma rádio "só de sucessos".
Do outro lado da Via Dutra, a 89 FM cada vez mais sintonizada com o reacionarismo da Jovem Pan combinada com o reacionarismo de Lobão e Roger Rocha Moreira.
E isso derrubou uma utopia que se tinha com as "rádios pop que só tocavam rock" que se reduziram as chamadas "rádios rock" dos anos 90 para cá.
Queriam desenvolver uma "cultura rock" sustentável, chamando a gatinha que ouvia Backstreet Boys para se converter em "roqueirona da pesada".
Procuravam um Renato Russo com apelo mais pop, encontraram um Lobão com apelo "coxinha" ressurgido das cinzas do ativismo confuso de Chorão do Charlie Brown Jr.
Isso sem falar que a "cultura rock" da dupla Cidade/89 foi tão podada que sua "rebeldia" tornou-se inócua, e as duas rádios já sucumbiram há dez anos, envergonhadas em ter que assumir a paternidade do rock domesticado de NX Zero, Fresno, Restart e companhia.
Mas a frustração não envolve só o rock.
Ela envolve sobretudo a cultura brega-popularesca como um todo.
Na música o que se vê é um grande desapontamento, não necessariamente um fracasso comercial.
Sob o ponto de vista cultural, a ideia de criar um "pop comercial" que aos poucos era "culturalmente" turbinado deu com os burros n'água.
Tentaram emepebizar a geração do "pagode" e do "sertanejo" do começo dos anos 1990, e seus cantores estavam mais próximos de crooners tipo Julio Iglesias do que dos artistas do primeiro time da MPB.
Dos neo-bregas de 1990, Alexandre Pires e Chitãozinho & Xororó vivem de covers, Belo e Zezé di Camargo repercutem mais como subcelebridades.
A axé-music, que queria ser a síntese de tudo na música brasileira, decai até em Salvador.
O que os intelectuais "bacanas" definiam como "cultura transbrasileira", na esperança vã de ver algum "ativismo etnográfico" se reduziu apenas a ser um pop americanizado à brasileira.
Acreditava-se na síntese de tudo, Tropicalismo, pop estadunidense, folclore popular, ativismo comportamental etc, e o que se vê é o superficialismo da atual geração de cantores "populares".
Os apresentadores de policialescos da TV queriam ser cult. Viraram apenas moralistas retrógrados.
As "musas siliconadas" apostavam num feminismo maluco que contrastava mulheres-objetos com escravas do lar, na última hora trocaram a obsessão por noitadas pela rotina fitness, se tatuaram demais e demonstram seu descrédito diante do público masculino em geral.
Elas têm que optar por uma "solteirice por conveniência" ou para escolher namorados convencionais que estão no seu caminho.
E os intelectuais "bacanas", de repente, fugiram, envergonhados, desmascarados diante do pseudo-esquerdismo que tentou ocultar seus vínculos orgânicos com a mídia venal.
No plano ideológico, aliás, o "popular demais" do brega-popularesco nem esteve aí com a queda de Dilma Rousseff.
Feito o seu teatro pseudo-esquerdista, a Furacão 2000 que fingiu solidariedade a Dilma no 17 de Abril foi se aliar ao PMDB carioca para promover o mercado arrivista do "funk" no Rio de Janeiro.
Será um mercado monocultural à maneira da axé-music que já vive seu ocaso em Salvador.
E que, para desespero das esquerdas médias, será muito bem entrosado com a mídia venal.
Sob o ponto de vista cultural, as esquerdas médias acreditavam que o "funk" representaria uma síntese entre ativismo guevariano, modernismo cultural e comportamental e pop contemporâneo.
Virou um pop dançante comercial inócuo, em que até temáticas de protesto viravam mercadoria.
Toda essa "cultura" derivada dos anos 90 vive seu declínio, frustrando de vez todas as expectativas de super-culturas comercialmente sustentáveis e artisticamente maleáveis.
Tudo virou um comercialismo inócuo, frouxo, superficial, burro e repetitivo.
A festa que se fez com tudo isso agora mergulha numa ressaca tão triste que já chegou à depressão.
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