Tanto burburinho contra o tal do "preconceito ao popular demais" que a intelectualidade que apostava num Brasil mais brega ajudou a chegarmos a esse governo temeroso de hoje.
Intelectuais surgidos dos porões do PSDB acadêmico e jornalístico e que passaram toda a Era PT tentando um falso vínculo com as esquerdas, hoje sumiram de cena.
Devem voltar como neocons histéricos, fazendo o papel de "esquerdistas arrependidos".
O que se sabe é que esses intelectuais da bregalização, que tanto choraram pelo "combate ao preconceito" que só serviu para transformar a degradação cultural num negócio rentável, causaram os estragos que geraram o contexto retrógrado de hoje.
Eles faziam apologia a valores retrógrados às classes populares, diante de um "ufanismo das favelas" que lembrava os tempos da Era Médici.
Vendiam como "progressista" um processo de degradação e desmonte do antigo patrimônio cultural das classes pobres.
Fizeram com que antigos quilombos fossem privatizados para virar senzalas controladas pela casa grande alinhada com a Casa Branca.
O processo de degradação era defendido abertamente, mas sempre como um suposto contraponto à "tirania elitista", equivocadamente associada à aliança CPC/Bossa Nova da MPB de Chico Buarque.
A degradação consistia em dar uma imagem positiva ao que havia de mais negativo nas classes pobres.
Havia a apologia à prostituição, para aprisionar certas moças pobres num subemprego, visando atender ao recreio de homens diversos, inclusive machistas violentos.
Falava-se que a prostituição era a "afirmação" da feminilidade das mulheres pobres brasileiras.
Havia a apologia ao mercado informal na sua pior maneira, no comércio de produtos clandestinos ou falsificados, do comércio dos camelôs sujeitos à repressão de fiscais ou policiais.
Falava-se que esse comércio era o "mercado independente" que sustentava pobres trabalhadores.
Havia a apologia à ignorância popular, que fazia os pobres, manipulados pela mídia e pelo mercado, a desempenhar um papel de ridículo enquanto a miséria lhes fazia perder até os dentes.
Falava-se que essa ignorância era sinal de "pureza e felicidade" das classes populares.
Havia a apologia de resíduos de valores retrógrados, como o machismo, o racismo e o arrivismo elitista, observados em manifestações de intérpretes musicais ou musas "populares".
Falava-se que eram valores que o povo pobre usava como "autoesculhambação" ou "ironia".
Havia a defesa da americanização da "cultura popular", assim como a inserção, no imaginário das classes populares, em sempre desejar e assimilar o que não é seu, mesmo quando se trata de um dado novo ou inusitado.
Falava-se que essa americanização, aliada a um provincianismo das classes pobres, era uma forma "intuitiva" de "reinventar" a "cultura das periferias".
Enquanto isso, criavam uma fantasia que um simples programa trainée poderia transformar um ídolo brega-popularesco num "figurão do primeiro time da MPB".
Tudo com banho de loja, tecnologia, uma estrutura administrativa, com assessoria e tudo.
Só que sabemos ninguém vira gênio musical com trainée e montes de dinheiro nas mãos.
A geração neo-brega dos anos 1990 tentou ser "emepebizada" e foi um grande desastre. Pareciam mais calouros de reality shows musicais.
Das musas siliconadas, então, transformá-las em ícones de beleza as entregou em padrões estéticos mais rígidos do que as que beneficiam socialites, supermodelos e atrizes.
A intelectualidade "bacana" falava mal dos padrões estéticos impostos às mulheres pelas revistas femininas das editoras Globo e Abril e pelas campanhas de publicidade.
Mas não enxergava que, no "popular demais", se via tanto uso de botox, silicone e maquiagem nas musas que representavam o "imaginário sexual das periferias".
O que era, nas mulheres de classe média, a "coisificação" da imagem feminina, nas mulheres pobres era visto como "liberdade do corpo" e "direito à sensualidade".
Durante muito tempo prevaleceu essa visão que, no exterior, teria constrangido gente renomada como Guy Debord, Umberto Eco e Noam Chomsky.
Mas que era servido nos meios acadêmicos como "verdade absoluta" e empurrado para as esquerdas nas publicações da mídia alternativa.
Os intelectuais orgânicos do academicismo tucano dos anos 90 estavam aos pés do Centro Barão de Itararé impondo, "sem preconceitos", os preconceitos culturais da Folha de São Paulo e da Rede Globo.
Chegaram mesmo a se acharem os "reis da cocada preta" do esquerdismo intelectual, mediando debates sobre manipulação da mídia venal e tudo o mais.
Faziam seu teatro do "bom esquerdismo" para impor a degradação cultural.
Uma degradação que contribuiu para a despolitização das classes populares que, depois, eram entregues pela manipulação midiática em meio ao duelo de influências entre o crime organizado (tráfico e milícias) e as seitas evangélicas pentecostais.
Os intelectuais "bacanas" que emporcalharam as páginas da mídia de esquerda tiraram o povo pobre do debate político, cada vez mais isolado.
Com isso, desmobilizou o povo e abriu o caminho para a mobilização reacionária das elites.
Enquanto intelectuais "bacanas" tentavam convencer as esquerdas que um Brasil brega é "o máximo", abriram caminho para reaças virarem "justiceiros culturais".
Reaças que nunca gostaram de povo de repente falavam mal da imbecilização cultural do "popular demais" no brega-popularesco.
Criou-se um engodo à esquerda e à direita, que a gente até imagina se farofafeiros ou urubólogos seriam, na verdade, os luzias e saquaremas da intelectualidade cultural, não haveriam combinado um "diálogo" ideológico.
Defendendo a bregalização, afastava-se o povo dos debates públicos, confinando-o no entretenimento da imbecilização cultural.
Isolando os debates públicos, se enfraquecia as esquerdas.
Enfraquecidas, elas poderiam ser abatidas pela reação direitista e pelos "revoltados" nas ruas.
Resultado: a intelectualidade "bacana" queria um Brasil brega, mas desejou, no fundo, a plutocracia de volta ao poder.
Ela se infiltrou nas esquerdas com uma falsa solidariedade e até pegando carona em movimentos como a causa LGBT.
Queriam a "reforma agrária na MPB" com bregas de toda espécie. Mas era uma reforma udenista que favorecia os empresários do entretenimento "popular" e os barões da mídia.
Agora temos o governo de Michel Temer e a PEC 241 (PEC 55 no Senado) que vai realizar cortes drásticos para a Cultura.
O jeito agora é a intelectualidade que quis um Brasil brega assumir que gosta da PEC do Teto.
Porque o brega que eles acreditam já é resultante de outros cortes sociais profundos.
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