Não se enganem com a foto acima.
O cenário, uma biblioteca, Jornalistas em pose séria diante de um presidente Michel Temer olhando para trás, fazendo um olhar atento.
Há um inicial clima de sisudez e sobriedade no começo do programa Roda Viva, da TV Cultura, na edição comemorativa dos 30 anos de existência do programa.
Aliás, não podemos nos enganar com as aparências, já que tudo que é aparato de sobriedade, técnica, disciplina, visibilidade, dinheiro e prestígio está sendo derrubado.
A chamada plutocracia está mostrando casos de barbárie, gafes e outros delitos e irregularidades diversas.
Recentemente, uma sobrinha-neta de José Sarney foi morta pelo cunhado, num escândalo que manche de sangue um clã ainda poderoso, embora em começo de decadência.
De Luciano Huck a Jaime Lerner, a plutocracia só acumula escândalos, gafes e outras situações vergonhosas, que o status social dominante não consegue mais abafar.
Por enquanto, os brasileiros médios aceitam, de maneira resignada, essa avalanche de escândalos, como se tudo fosse natural. Só que não.
No começo do Roda Viva, o próprio Augusto Nunes, jornalista gaúcho, articulista de Veja e apresentador do programa, fez a primeira pergunta, sobre as conversas telefônicas de Romero Jucá sobre a Operação Lava Jato.
Temer saiu com uma desculpa esfarrapada, porém bem construída.
Disse que Romero Jucá "mantém os direitos políticos preservados", o definiu como "excelente articulador" no Legislativo e disse "não haver problemas" para ele se tornar líder do governo no Senado.
Esta é uma das perguntas mais "polêmicas" do programa, mas nada que afrontasse o presidente.
Até porque os jornalistas convidados são solidários ao atual cenário político: Ricardo Noblat, de O Globo, Eliane Cantanhede, do Estadão e da Globo News, só para citar dois.
No todo, seis jornalistas: dois do Estadão, um da Globo, outro da Veja, outro da Folha e o próprio diretor de jornalismo da TV Cultura, Willian Correa.
Representantes da chamada mídia venal foram todos incluídos entre os jornalistas convidados.
Não precisamos descrever todo o questionário.
A pauta é conhecida: as perguntas mais parecem terem sido feitas a pedido do próprio Temer.
São sempre as mesmas questões, sobre o projeto político, as medidas econômicas, que mais servem de gancho para Michel Temer apresentar os argumentos de sempre.
É aquele papo: Michel Temer não vai reduzir os gastos públicos, que vai apenas "gastar nos limites do que for arrecadado" e que valorizará os direitos trabalhistas, a Educação e a Saúde.
O clima de sisudez foi aos poucos quebrado, até que Ricardo Noblat, considerado "jornalista sério", veio com a seguinte pérola: "Temer, como você conheceu a Marcela?".
Fala-se, é claro, da primeira-dama, com idade para ser neta do marido.
E aí veio aquele clima revista Caras que, é claro, dá o maior cartaz para o presidente e sua net..., quer dizer, esposa, principalmente depois da Abril receber umas generosas gorjetas públicas.
As gorjetas fizeram com que várias revistas da Abril deixarem de ser editadas pela subsidiária Editora Caras, solução dada nos seus tempos de crise, há dois anos.
Com o fim do programa, houve uma festa na qual Willian Correa fez um vídeo como se estivesse emulando Amaury Jr. (não confundir com o Amaury Ribeiro Jr.; estamos falando do colunista social).
Willian não fez falsa modéstia. "Grandes figuras perguntando, uma grande figura respondendo", na qual o próprio diretor de jornalismo da TV Cultura se incluiu entre os que perguntavam.
Entrevistada, Eliane Cantanhede revelou que o presidente temeroso está escrevendo um novo livro, um romance.
Mas quando o próprio Michel Temer, puxado pelo braço por Willian, deu seu depoimento, o presidente entregou: agradeceu o pessoal do Roda Viva pela "propaganda".
É isso que foi a edição do Roda Viva: propaganda do governo Michel Temer.
Nada de jornalismo de verdade. Foi mais uma festa de comadres.
O que seria a edição de comemoração dos 30 anos do programa da TV Cultura, acabou celebrando um outro motivo.
É a ajuda financeira das verbas públicas do governo temeroso para a mídia venal. O Roda Viva de ontem serviu para festejar tamanha farra financeira, enquanto os brasileiros terão que se virar com as migalhas a serem liberadas depois da aprovação definitiva da PEC do Teto.
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