O rádio FM deu seu último golpe sobre o rádio AM.
O governo Temer autorizou a migração de 240 AMs para o dial FM, no caminho para o fim definitivo do dial AM no Brasil.
O rádio AM estava sendo extinto em outros países pela pressão do lobby de barões midiáticos e da telefonia celular, que produziu celulares que só sintonizavam FM.
No Brasil, a Aemização das FMs sempre caminhou ao lado do coronelismo político e midiático, mesmo quando não havia a marquize de um partido político.
O "fenômeno", que consistia em "programas de locutor" e "noticiários prolongados" que apostavam na overdose de informação, sempre agiu mais para manipular ou cansar os ouvintes do que para trazer prestação de serviço e informação enxuta e concisa.
Em muitos casos, os "comunicadores" não entendiam dos assuntos que se arriscavam a noticiar - com textos redigidos por outrem - e até a comentar.
Havia também as jornadas esportivas, extremamente maçantes e muito entediantes.
A segmentação musical foi para as picas.
Não havia rádios de jazz, de rock autêntico, de MPB, e a peneira estrangulava o dial porque o AeMão era representado por cerca de seis a oito emissoras cujo conteúdo já é uma redundância do que ocorre na TV aberta ou em parte da TV paga.
Essa peneira fazia com que a segmentação, se ouvesse, fosse comprometida.
Vide o formato de rádio de rock que teve que ser deturpado para a fórmula das "rádios pop que só tocavam rock", uma segmentação que se limitou à vitrola, porque o resto era rádio poperó como qualquer outra.
É como se a Jovem Pan 2 colocasse Soundgarden no lugar do Justin Bieber, ou Pitty no lugar de Anitta.
O governo Temer ainda sinaliza para derrubar ação do STF que proíbe que emissoras tenham como donos políticos.
Para Temer, a sociedade em geral não pode ter representantes numa Empresa Brasileira de Comunicação, que não tem mais Conselho Curador para dialogar com os movimentos populares.
Mas pode ter rádios com donos que assumem cargos parlamentares ou governamentais, com um claro papel de manipular e transformar regiões de bairros, cidades ou regiões metropolitanas em currais políticos.
Foram essas rádios que reduziram o rádio AM a quase nada, diante de uma concorrência desleal que usou como desculpa a "modernidade tecnológica".
Afinal, uma parcela de FMs produzia ou retransmitia conteúdo tipo "rádio AM" para passar a perna nas AMs e enfraquecê-las.
Era disputa de lobos famintos da Frequência Modulada, em busca de reserva de mercado e concentração de poder.
Se havia um dial para 30 emissoras, a migração de uma dezena delas para o dial FM era sinal de que a concorrência não era tão amiga assim como se diz.
O rádio FM, no entanto, demorou demais para comemorar a vitória sobre as AMs.
Isso porque o rádio FM só herdou, do rádio AM, a situação de crise e decadência.
Agora é o rádio FM que tem que rebolar diante da concorrência avassaladora e mais agressiva da televisão, sobretudo paga.
Tem que comprar audiência aqui e ali, mudar formato de programas, locutores esportivos passando a "cantar", quase fazendo repentismo e caprichando nas entonações etc.
Noticiários que cada vez mais se tornam showrnalismos, debates cada vez mais enxutos etc.
Afinal, num país em que os livros mais vendidos primam pela superficialidade textual, não se pode esperar das FMs uma profundidade igual ao da imprensa escrita.
Se "ouvimos" livros de youtubers, não é por isso que passaremos a "ler" rádio FM.
Sem falar que as rádios "informativas" andam muito ruins e podem piorar, vide o chapabranquismo em prol do governo Temer.
O rádio FM será uma extensão da TV aberta, até pela concorrência voraz.
E, diante da novidade do DAB (Digital Audio Broadcast), o rádio FM já monopolizará o mercado radiofônico com os dias contados.
O rádio FM só é "tecnologia de ponta" para os provincianos do Brasil.
No fundo o rádio FM está velho e cansado, de tanto sintonizar o mercado e tirar os ouvintes do ar.
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