Nos últimos meses é sempre assim.
Quando a plutocracia sofre uma crise, surge a intelectualidade "bacana", aquela que luta por um Brasil mais brega, para fazer sua "decadência bonita" da cultura popular.
É aquele papo: "popular demais", "cultura transbrasileira", "provocatividade" etc.
No "pacote", ídolos "populares demais" e emergentes "provocativos" que são "geniais" porque causam algum incômodo na sociedade.
Os bregas são "geniais" porque são vaiados, os emergentes porque causam escândalo.
Histórico de vaias raivosas? Gênio. Alguma ficha policial por conta de "provocações"? Gênio.
Arte pouco importa. O que importa é uma equação engenhosa de plateia cheia e alguma perturbação social realizada.
Estranho a intelligentzia ser acionada a cada crise política da direita.
Copiando Cabo Anselmo na crise do governo João Goulart, mas adaptado ao contexto cultural, a Furacão 2000 fingiu solidariedade com Dilma Rousseff no dia da votação da abertura do processo de impeachment.
A mesma Furacão 2000 que elegeu Luciano Huck, astro da mídia venal e amigo do peito de Aécio Neves, como "embaixador do funk".
O mesmo "funk" que tem a "mãe loura" Verônica Costa como integrante do PMDB carioca e que receberá de presente a decretação do "Dia do Funk" por um político da chapa "Aezão" (Pezão + Aécio Neves) em 2014.
A intelectualidade "mais legal do país", surgida dos porões do PSDB acadêmico para se apropriar das esquerdas, está incomodada com os rumos das manifestações.
Finge solidariedade e depois vende os seus "provocativos" produtos que, mais tarde, serão paparicados até pelo Estadão.
Promovem o desmonte da MPB para formatar o "pop brasileiro" à americana.
Tem "música pro povão", tem gente "provocativa-cabeça", tem "MPBzinha cordeirinha" para a classe média namorar nos jantares de luz de velas.
Dentro desse prisma, até o feminismo e o ativismo político viram mercadoria, se transformam em produto de consumo servido até para a alta sociedade de Caras e Glamurama.
O propósito é evitar o vexame inicial ocorrido na ditadura militar.
Os generais deixaram escapar o ativismo musical de cepecistas e bossanovistas que se tornaram a mais famosa geração da MPB moderna, lançada nos programas musicais no meio dos anos 1960.
Isso é o que a intelectualidade "bacana" quer evitar.
Ela passou todos os 13 anos de governos petistas bajulando Lula e Dilma Rousseff, enquanto serviam ao público de esquerda nomes "populares demais" patrocinados pelo latifúndio e pela mídia venal.
Queriam "combater o preconceito" forçando a aceitação de uma abordagem preconceituosa do povo pobre.
Faziam isso para evitar que o povo pobre se politizasse.
Inventavam que o rebolado, o papel de ridículo e a inferioridade social já eram "ativismo" e só era preciso o povo pobre mostrar sua própria imagem pejorativa nos redutos das elites.
Preso no entretenimento brega, o povo era desviado do debate público, esvaziando o quórum das grandes questões brasileiras.
Desta forma, os ativistas e estudiosos sérios não conseguem promover o diálogo com o grande público.
O grande público está "ocupado" com o entretenimento "brega" que a intelectualidade "mais legal do país" disse, com argumentos falaciosos, que era "ativismo".
Esse é o grande perigo que ronda todo momento de crise.
Os funqueiros se esforçaram em abafar o protesto anti-impeachment de 17 de Abril, reduzindo a manifestação a um "espetáculo de alegria e dança",
De vez em quando, havia um esforço de jogar uma pá de cal na MPB, enquanto o comercialismo musical era promovido com um suposto ativismo comportamental.
Pouco depois de Chico Buarque dedicar "Apesar de Você" ao governo Temer, de repente o cantor foi declarado "ultrapassado", enquanto uma funqueira emergente era definida como "nova música de protesto".
Que a MPB precisa se renovar, tudo bem, mas não promovendo a caricatura do povo pobre.
Além disso, esculhambar uma figura progressista como Chico Buarque, da parte de um lobby intelectual neoliberal infiltrado nas esquerdas, soa suspeito.
Se já era estranho o barulho do "funk" concorrendo com o grito anti-impeachment, reduzindo o protesto a "pura alegria e festa", fazer uma ingratidão com Chico Buarque é grave.
E de repente a intelligentzia tenta fazer barulho, agora de forma discreta, primeiro cortejando o hip hop e os cantores "provocativos", para depois despejar o brega-popularesco de sempre.
Sabemos que questionar esses intelectuais "bacanas" é visto como "patrulha ideológica".
Mas não é.
Afinal, esses intelectuais fazem o serviço free lancer, ou "frila", para a mídia venal.
Vestem a camisa adversária, vão para a mídia esquerdista, para impor preconceitos da Folha e da Globo.
Defendem ídolos "populares demais" como se fossem "libertários", mas em seis meses esses mesmos "heróis" vão festejar nos palcos da Globo, virar capa de Veja, manchete de Caras e capa do Caderno 2 do Estadão.
Isso é desmontar as forças progressistas através da cultura. E aproveitando apenas do uso deturpado da expressão "popular".
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