O falecimento do líder cubano Fidel Castro, aos 90 anos, praticamente encerra com melancolia o ano de retomada ultraconservadora na sociedade ocidental.
Um dos mais controversos líderes políticos dos anos 1960, Fidel havia realizado uma façanha quando um pequeno país derrubou uma ditadura, a de Fulgêncio Batista, para desenvolver um governo nacionalista de esquerda e desafiar a hegemonia dos EUA.
Os EUA tentaram derrubar Cuba com a invasão da Baía dos Porcos em 1961 e o projeto de guerra com mísseis em 1962.
Para complicar, John Kennedy, presidente que não se conformava com a adesão de um pequeno país centro-americano ao socialismo, foi misteriosamente assassinado em 1963.
Será que os EUA perderam a cabeça e foram patrocinar golpes militares pela América Latina?
Não, porque o plano já existia com Kennedy vivo. Neste caso, houve cabeças frias planejando tudo.
O golpe militar de 1964 no Brasil, por exemplo, já era ensaiado pelos três ministros militares de Jânio Quadros que estavam prontos até para bombardear o avião que levasse Jango para Brasília ou Porto Alegre.
Felizmente houve uma sabotagem e um avião não levantou voo.
Mas, três anos depois, o Brasil mergulhou em duas décadas de declínio político que derrubou o país até mesmo culturalmente.
Tanto que, quando recuperamos as políticas progressistas, não tivemos CPC da UNE nem a nova MPB dos festivais da canção.
Tivemos, sim, a blindagem em torno dos ídolos brega-popularescos que já eram apoiados pela mídia venal na ditadura militar.
Só porque carregavam o rótulo "popular", os bregalhões foram empurrados para as esquerdas como remédio amargo dado a criança travessa.
O golpismo foi muito duro e virou "escola" para o golpe recente no Brasil, só que outra roupagem, trocando a farda pela toga.
Vivemos o surto de retomada ultraconservadora, que reanimou pessoas retrógradas a despejar suas neuroses sociais diversas.
A vitória de Donald Trump nos EUA, da saída do Reino Unido da União Europeia, da ascensão de grupos fascistas como o Tea Party, do direitismo atingindo até a cultura rock, antes símbolo de rebeldia e ativismo, mostram o ano triste em que vivemos.
Nós, no Brasil, vendo o mandato de Dilma Rousseff ser facilmente ceifado, entendemos os rumos desse neoconservadorismo histérico.
A pressão das passeatas anti-PT nem era tão grande assim, e o pessoal saiu recebendo dinheiro do PSDB, DEM, PMDB, das empresas privadas em geral.
A cobertura da Globo exagerou e a grande imprensa restante engrossou o coro.
E o Poder Judiciário e o Ministério Público com seus deslizes legislativos imensos.
Um pesadelo sócio-político agravado pelo bitolamento de muitos jovens que nem parecem saber da gravidade do governo temeroso.
O que preocupa é a despreocupação de muitos com a gravidade do governo do presidente Michel Temer.
Veem os escândalos políticos como se fossem esquetes de programas humorísticos.
E esperam ver Henrique Meirelles vestido de Papai Noel dando a PEC do Teto de presente para os brasileiros, como se isso fosse coisa boa.
Diante disso, o falecimento de Fidel Castro apenas consolida esse "espírito do tempo".
As elites dominantes vivendo seus momentos de alegria e esplendor.
A democracia vivendo seu período de profunda tristeza, no "entardecer" de um ano melancólico.
O ano ainda não acabou. Mas o crepúsculo já aponta para tempos mais sombrios.
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