Se você é de classe média alta, sua rotina é tranquila.
Vê televisão, acredita no que os telejornais dizem, brinca com as tolices do WhatsApp no seu celular, vai para o McDonalds fazer seu lanchinho com aquele combo explosivo que escolheu, enche a cara num bar, vai para a noitada curtir seu "funk", "sertanejo" etc, e na manhã de sol vai à praia.
Você vive um mundo feliz depois que "aquela chata", Dilma Rousseff, foi expulsa do poder, de maneira interina em maio passado, de maneira definitiva no fim de agosto último.
Daí você vê a visão oficial da mídia venal de que as instituições "funcionam em surpreendente normalidade" e que todo questionamento é "mimimi de petistas frustrados".
Grande engano. A "realidade" combinada nos escritórios dos grandes veículos midiáticos esconde uma catástrofe política que está em andamento, desde que Michel Temer assumiu o governo, ainda como interino.
Hoje, Dia da Consciência Negra, o feriado que o "admirável" Fernando Holiday quer revogar na legislação paulistana, estimulando, quem sabe, as propostas de revogar a Lei Áurea e até o Sete de Setembro (afinal, "somos uma América", para que ser brasileiro?), uma realidade sombria ocorre.
Jovens negros pobres são mortos "sem querer" pela polícia, com acusações criminais "plantadas".
Entidades de direitos humanos classificam o Brasil como um país que mais mata jovens pobres no mundo.
Estatísticas fazem o país superar até mesmo os conflitos bélicos na Síria.
Recentemente, cinco jovens foram "atraídos" para uma festa em São Paulo e depois mortos.
E muitos desses casos, infelizmente, terminam em impunidade.
Mas isso, se é noticiado pela mídia, é de forma subestimada.
O que se vê é uma Disneylândia da periferia estereotipada, que mais parece uma "pobreza feliz", de gente com "orgulho de ser pobre", achando "lindo" viver na miséria e no subemprego.
A "consciência social" da grande mídia é tão superficial que empresas que praticam trabalho análogo à escravidão têm projetos "assistenciais".
O McDonald's tem o McLanche Feliz, que conta com celebridades, subcelebridades e tudo.
É um mundo da fantasia, com seus conflitos minimizados ou reinterpretados ao sabor das conveniências.
Como no caso das prisões de Anthony Garotinho e Sérgio Cabral Filho, comemoradas pela mídia venal como se fosse "o histórico fim de um ciclo de corrupção sem fim".
Com os comentaristas desta mídia patronal agora dizendo que "não são seletivos" e "não condenam só os petistas".
Enquanto isso, corruptos como os peemedebistas Geddel Vieira Lima, Romero Jucá e Moreira Franco estão em cargos destacados do governo "responsável" de Michel Temer.
Um governo que, sob os olhos da sociedade conservadora, "não é lá aquela maravilha", mas "traz uma esperança" para o país.
Acreditam que, com a limitação dos gastos públicos, a economia brasileira vai crescer.
Esquecem que a recessão no Brasil é agravada não pelos gastos públicos, mas pelos juros da dívida pública.
São juros ligados a empréstimos empresariais, operações cambiais, exportações e importações, envolvendo incentivos e empréstimos bancários.
Estes continuam altíssimos e tendem a ficar mais elevados.
E é esse país da fantasia, que, agora entregue à plutocracia, tende a se transformar numa "fábrica de sonhos" das elites esperançosas em retomar privilégios antigos.
E aí qualquer escândalo gravíssimo vira uma "comédia" ou um "incidente menor".
A invasão de neofascistas na Câmara dos Deputados é um exemplo.
Pessoas saudando Sérgio Moro, pedindo a presença de um general, reivindicando a volta da ditadura militar.
Quebrando vidraças, brigando com quem estava na frente, enfrentando a polícia legislativa, interrompendo sessão parlamentar, pisando nas bancadas, fazendo gesto fascista de estender o braço direito.
Poderiam ter sido presos, num país em que a polícia prende estudantes que ocupam escolas.
Estudantes foram algemados em Palmas para "garantir segurança" e "evitar vandalismo".
Mas os neofascistas foram apenas detidos e liberados como se tivessem feito uma baderna infantil.
Detalhe: os estudantes ocupavam escolas com a coragem e a prudência de adultos.
Os neofascistas eram em boa parte adultos e "coroas" que se comportavam como delinquentes birrentos.
Pediam um regime político só para eles, sob a desculpa de ser "para o Brasil". Feito loucos em um hospício decadentes, cantavam o "Hino Nacional" avacalhando com a referida canção pátria.
Parlamentares de direita fizeram barulho. Rodrigo Maia disse que vai pedir a prisão dos invasores e multa por depredação de patrimônio público.
A grande mídia fez barulho. Disse que a invasão era um "atentado à democracia" e uma "afronta às atividades legislativas e à Constituição".
Michel Temer também fez barulho. Através de seu porta-voz Alexandre Parola, Temer disse que a invasão é um "desrespeito institucional" e que será combatido "à luz da lei".
Foi iniciado um inquérito para os 40 invasores que foram identificados.
Mas de repente a preocupação dos brasileiros se arrefeceu.
Os invasores, naquele incidente, até saíram de forma tranquila.
Um outro dia, poderão fazer algo pior e ninguém está preparado para deter.
Será um golpe político mais cruel e mais complexo do que o golpe jurídico-parlamentar que se consolidou nos últimos meses.
O Brasil está extremamente vulnerável e inseguro.
E aqueles que gostam de ver TV e brincar com o WhatsApp não sabem a catástrofe que está a caminho.
Ligados na grande mídia e seus espaços solidários, perderam a sintonia da realidade.
E ainda se incomodam em ver estudantes ocupando escolas para avisar à população do agravamento dos retrocessos já em andamento.
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