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CLÁUDIO JÚLIO TOGNOLLI OU COMO SER JORNALISTA POLÊMICO EM SÃO PAULO


A notícia da saída de Cláudio Júlio Tognolli da Jovem Pan, poleiro de jornalistas tucanizados e reaças de carteirinha, é mais um episódio da aventura que é ser jornalista polêmico em São Paulo.

A cada temporada surgia um jornalista, geralmente cultural, mas depois afeito a comentários políticos, que causava escândalos e controversas na opinião pública.

Era uma espécie de aventureiro do texto que buscava visibilidade escrevendo textos para desagradar as pessoas ou causar algum tipo de escândalo.

É um fenômeno que tem pouco menos de 35 anos.

Começou com Pepe Escobar, jornalista cultural da Folha de São Paulo, que foi uma espécie de David Nasser do pop, afeito a escrever bons textos que ocultavam fraudes jornalísticas.

Segundo Ricardo Alexandre, em Dias de Luta, Escobar era acusado por um musico do Voluntários da Pátria de ter pedido para este comentar bandas de rock para o jornalista "montar" uma resenha.

Pepe Escobar causou muito escândalo com seus textos um tanto sensacionalistas. Deu um sumiço e se arrependeu profundamente do que fez.

No exterior, ele mudou completamente e virou um dos melhores analistas da política internacional, nos últimos 15 anos.

Tornou-se um especialista em assuntos do Oriente Médio, fazendo boas reportagens sobre o 11 de Setembro, a Primavera Árabe e, recentemente, os bastidores da cobiça imperialista às nossas reservas de pré-sal.

Depois de Pepe Escobar, que havia sido o jornalista provocativo pré-Bizz - na verdade, seu auge foi ainda nos primórdios da revista - , veio André Forastieri.

Ele tornou-se chefe de redação da revista Bizz e encerrou o bom ciclo da revista musical da Abril, entre 1985 e 1990.

Esse ciclo foi extinto sob a desculpa de que os jornalistas, vários deles envolvidos com música, escreviam para o próprio umbigo, falando de bandas que o grande público desconhecia.

Forastieri passou a fazer um anti-jornalismo, com uma postura niilista, na qual havia a covardia de classificar o disco Meat is Murder dos Smiths como o pior disco de todos os tempos.

Era a época em que uma mera sátira de jovens delinquentes, o seriado Beavis and Butthead, era vista equivocadamente pela mídia brasileira como se fosse uma "consultoria de rock'n'roll".

A decadência da Bizz nos anos 90, depois fragmentada no pseudo-zine General, revista fundada por Forastieri quando fundou uma editora dedicada a HQs,

O maior pecado de Forastieri foi reduzir a cultura rock ao pragmatismo quase indigente dos anos 90.

Aquela coisa: entre o hit-parade e a rebeldia mais simplória, mesmo que seja apenas para fazer barulho e contar piadas.

Depois de tanto mau gosto e de reduzir a cultura rock brasileira a uma bobagem infantiloide, Forastieri se concentrou nos quadrinhos e virou colunista de Caros Amigos.

Caros Amigos ainda procurava algum intelectual cultural de esquerda, espécie ainda difícil de ser encontrada no panteão da visibilidade fácil.

Forastieri até virou um esforçado analista de temas políticos e midiáticos, às vezes acertando em alguns textos.

Hoje permanece nessa linha, meio morna mas correta.

E aí veio Pedro Alexandre Sanches, o esforçado jornalista da Folha de São Paulo, que aprendeu direito as lições de Otávio Frias Filho e seu Projeto Folha.

A ideia é criar um jornalismo enxuto, aparentemente objetivo e profissionalmente correto, mas com uma linha editorial voltada a uma mentalidade neoliberal.

Tavinho Frias havia tirado o que havia de jornalista de esquerda, conforme havia descrito José Arbex Jr. no livro Showrnalismo - A Mídia Como Espetáculo.

Sanches passou a defender a bregalização cultural, adotando um discurso pretensamente tropicalista, como se o comercialismo musical dos bregas fosse algum movimento libertário. Só que não.

Era o que eu defini como "ditabranda do mau gosto", combinando o jargão "ditabranda" lançado pela Folha com a supremacia do "mau gosto popular" que a intelectualidade festiva lançava na época, por volta de 2005.

Era a ascensão da intelectualidade "bacana", que ainda estava "no armário" na Era FHC, enfiando ideias do próprio Fernando Henrique Cardoso (Teoria da Dependência) na música brasileira.

A ideia é investir na defesa de uma música "popular demais" meramente comercial, mercantilista mas que valesse pelas "polêmicas" que causava com sua mediocridade e com a visão caricatural do povo pobre.

Juntando a Teoria da Dependência de FHC com o "fim da História" de Francis Fukuyama, Pedro Sanches decretou que a história da MPB acabou e que a ideia é investir no que ele definia de "cultura transbrasileira".

Vendeu a ideia primeiro para a Folha, depois para Estadão e revista Época. Até que, ainda na crise do governo FHC, com a tragédia da Plataforma P-36, da Petrobras, e a crise da energia elétrica (apagão), em 2001, a intelligentzia se preparava para se infiltrar no esquerdismo.

A ideia é evitar o papelão da ditadura militar, que deixou que uma "frente ampla" da MPB, com a reconciliação de cepecistas e bossanovistas, transmitir cultura musical de qualidade.

Ou de surgir, no âmbito comportamental, figuras como Leila Diniz ou a turma de O Pasquim.

A intelectualidade "bacana" então decidiu exaltar as mais canhestras expressões musicais, sob a desculpa do "combate ao preconceito".

Monopolizando a visibilidade, não tiveram um contraponto à altura que pudesse neutralizar essa visão de valor bastante duvidoso.

Pior: vendendo a ideia primeiro na mídia venal, sobretudo Rede Globo e Folha de São Paulo, foram também vender na mídia esquerdista.

E aí Pedro Alexandre Sanches foi passear pelas redações esquerdistas, na Carta Capital, Caros Amigos e revista Fórum transmitindo pontos de vista próprios da Folha e da Globo.

Era estranho: os intérpretes "populares demais" que Sanches resenhava, num espaço de cinco meses, virava queridinho da Globo, da Folha e até de Veja e Caras.

Sanches passou quase toda a Era PT querendo ser "o intelectual cultural de esquerda" com suas visões neoliberais, sonhando com um pop comercial brasileiro pretensamente "provocativo".

Ultimamente parece querer desembarcar dessa postura, depois de ter se "queimado" esculhambando Chico Buarque e estimulando um parceiro seu no Farofafá a ridicularizar Vladimir Safatle.

E aí, aos poucos, o Farofafá passa a dar mais destaque ao competente Jotabê Medeiros, depois que Sanches passou a ser mais panfletário e textualmente prolixo.

E chegamos a Cláudio Júlio Tognolli.

Era um jornalista da geração Bizz, nos anos 80, e tentou ser músico. Foi colega de escola de Paulo Ricardo e William Bonner e teve uma atuação mais, digamos, "alternativa" na década oitentista.

Tognolli, que chegou a ser capa de Caros Amigos, depois se consagrou em programas da Jovem Pan e CBN, e parece ter se entrosado com o universo da mídia venal.

Foi co-autor de uma biografia do cantor Lobão e do livro Assassinato de Reputações de Romeu Tuma Júnior.

Passou-se o tempo em que chegou a escrever um livro com José Arbex Jr. publicado na editora Boitempo, O Século do Crime.

E aí, diante de uma polêmica com Helen Braun, sua colega de bancada no Morning Show da Jovem Pan, Tognolli pediu demissão, dizendo que em breve divulgará "detalhes mais detalhados".

Aguardem cenas dos próximos capítulos.

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