Três políticos foram presos numa aparente cruzada contra a corrupção.
O ex-deputado Eduardo Cunha, que chegou a presidir a Câmara dos Deputados e cujo legado foram as "pautas-bombas" herdadas, de forma não assumida, por Michel Temer através da "ponte para o futuro".
O ex-governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, evangélico e radialista, cujo reduto político no entanto é distante da capital, o município de Campos, no Norte fluminense.
Outro ex-governador, Sérgio Cabral Filho, cujo currículo destoa da honrada trajetória do pai, um dos fundadores de O Pasquim, era o astro maior do PMDB carioca depois ancorado por Eduardo Paes.
Envolvidos em corrupção, parece que, quando foram presos, representaram o fim de uma longa trajetória de propinas, desvios de dinheiro público e outras práticas ilícitas do poder público.
Não realmente.
Observando bem, os três nem estão entre os principais detentores do poder, não sendo os "peixes grandes" da corrupção política.
Eduardo Cunha foi um reacionário útil, mas faz o tipo do encrenqueiro que pode ir "longe demais", daí que figuras dessas costumam ser deixadas de lado pela plutocracia em determinado momento.
Anthony Garotinho não faz parte do mainstream político que domina o poder nos Estados e no Brasil. E não é um aliado das forças que hoje controlam o poder político nacional.
Sérgio Cabral Filho virou um hasbeen político, pois, apesar de ser do PMDB carioca e de ter comandado o grupo político que depois foi liderado por Eduardo Paes, sucumbiu a um desgaste político por vários incidentes, e teve que sair de cena discretamente.
O problema não é as prisões deles, que têm suas razões de ser.
O problema está pelo fato deles não estarem no alto escalão do cenário político atual, mas nomes descartados por alguma circunstância específica.
Se o combate à corrupção, como se vê na Operação Lava Jato, fosse realmente levado a sério, teríamos "peixes grandes" presos.
Romero Jucá, que revelou um esquema para obstruir a Lava Jato, tornou-se líder do governo Michel Temer, que alegou que o senador "tem todos os direitos políticos preservados".
José Serra recebeu da Odebrecht R$ 23 milhões (em valores hoje corrigidos, equivale a aproximadamente R$ 34 milhões) de Caixa Dois da campanha presidencial de 2010.
No entanto, Serra é outro homem do governo Temer, sendo o desastrado ministro das Relações Exteriores.
E eles não foram sequer chamados para depor, não tiveram condução coercitiva mas também nem com vaso de flores foram convidados a prestar qualquer esclarecimento das acusações de corrupção.
Põem tudo debaixo do tapete e fica nisso mesmo.
Aécio Neves, nem se fala. O senador tucano anda "descansando" sua imagem depois que vazaram inúmeros escândalos de corrupção envolvendo ele.
A mídia venal permite que ele "desapareça" de vez em quando para que, assim, ele volte como o potencial "salvador da pátria" dos sonhos de todo midiota.
Daí a armadilha tendenciosa de alguns políticos que são presos, porque eles mais parecem desafetos ou pessoas incômodas para o andamento do projeto plutocrático em curso.
O que chama a atenção é que Cunha, Garotinho e Cabral Filho vieram do Rio de Janeiro.
Daí que se pergunta por que só os políticos fluminenses estão presos.
Do Paraná, quando muito, Jaime Lerner apenas está sendo investigado por corrupção.
Em São Paulo, ninguém mexe com Geraldo Alckmin, agora que seu pupilo João Dória Jr. assumirá a prefeitura da capital paulista, dando fim ao intervalo tucano preenchido pelo PT de Fernando Haddad.
Fernando Henrique Cardoso, espécie de guru da mídia venal, também é intocável.
O PMDB ligado ao governo Temer tem que ser preservado, para abrir caminho para o PSDB.
Por isso, os políticos acusados de corrupção que são presos não correspondem ao establishment.
Daí que não há o que comemorar.
É tempo de tomarmos cautela nesse cenário vulnerável e inseguro em que vive o Brasil.
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