A JUVENTUDE QUE CULTUOU GUNS N'ROSES ACABOU ELEGENDO DONALD TRUMP.
É certo que houve a mediocrização cultural no Brasil e no resto do mundo.
Mas, oficialmente, era a "grandiosa supercultura" que nunca disse a que veio, mas tomou conta do establishment e queria tomar até mesmo os segmentos alternativos.
A utopia da "supercultura" foi um mito lançado nos anos 90 para transformar o mainstream em algo supostamente mais substancial, versátil e socialmente interatuante.
Na música, a combinação com elementos de tecnologia, com as coreografias cênicas, com os supostos ativismo e provocatividade comportamentais, tentaram dar o tom.
A grandiloquência de Ivete Sangalo no Brasil, ou a visibilidade de Beyoncé Knowles, ou a curtição sem limites de Justin Bieber também dizem muito dessa "supercultura".
É certo que midiotas e intelectuais "bacanas" muito se empenharam em reagir a qualquer crítica.
Afinal, eles acreditavam que o establishment cultural dos anos 90 criou paradigmas vigentes até hoje que prometiam uma síntese total de tudo o que era vivido pela sociedade.
Havia uma estrutura e uma mentalidade mercadológica para manter ídolos midiáticos em eterna evidência, eliminando a antiga sina de descartabilidade pelos modismos.
Uma elaboração musical que parecia linha de montagem, mas também seguia o Programa de Qualidade Total para minimizar qualquer tipo de crítica.
Em todo caso, tudo o que aparece nas listas de maiores sucessos da Billboard, Crowley ou nas FMs "só sucesso" em geral é "genial" e não se pode discutir isso.
Essa "supercultura", que não é só musical, mas comportamental, tentou unir comercialismo, ativismo, convencões sociais a serem reafirmadas com outras a serem relativamente rompidas.
Só que tudo isso caiu em sérias contradições.
Criou-se, em vários segmentos, um pop "popular", "juvenil", "roqueiro" ou "adulto" que fosse ao mesmo tempo comercial, dotado de muitas informações, muita atitude, tecnologia e interatividade.
Tudo se resultou em expressões inócuas, pouco expressivas, superficiais e repetitivas.
Querendo unir coreografia e atitude, o pop estadunidense esbarrou na catarse que, contraditoriamente, envolvia, por outro lado, os roqueiros que desviaram a antiga rebeldia para o mar revolto do ultraconservadorismo raivoso.
Os EUA de Beyoncé Knowles e Guns N'Roses eram um só, diante do pragmatismo sintético da "supercultura" dos anos 90.
Mas os EUA de Beyoncé fracassou em eleger Hillary Clinton, representante de um capitalismo moderado que, ao gosto estadunidense, é quase progressista.
E os EUA de Guns N'Roses, cuja música "I Used to Love Her" faz apologia ao feminicídio, desviou a rota do rock para o pragmatismo, o conformismo e o ultraconservadorismo que elegeu um reacionário como Donald Trump.
Os roqueiros perderam a capacidade de garimpagem, se contentando com os sucessos que servem para extravazar a agressividade.
Perderam a capacidade de questionamento, e, no caso do rock pesado, passou-se a aceitar os posers como filhos bastardos do rock clássico.
Tudo para garantir a fusão de espetacularização, humorismo e sensacionalismo que o metal farofa oferecia, completando o combo de "supercultura" que tentava fazer o rock "mais divertido".
Mas o rock não ficou mais divertido. Ficou chato, com aquele papo de ser "a melhor música do planeta" que, no Brasil, fazia boas rádios pop se converterem em rádios rock caricatas e ruins.
E sucumbiu a um conservadorismo retrógrado só por não se alinhar com o aparente populismo que viam nos governos petistas.
Mas problemas semelhantes ocorriam em outros âmbitos da "supercultura".
O que dizer das mulheres siliconadas?
Elas eram usadas pela intelectualidade "bacana" como contraponto à "sobriedade feminina" de classe média alta.
Só que tudo deu em fracasso, porque, para combater a "ditadura da beleza" às mulheres "de elite", usou-se a "ditadura da beleza" um tanto caricata às mulheres de "apelo mais popular".
Era apenas uma briga da cara com a coroa, na rinha de moedas: a "rainha do lar" dos comerciais de detergente e das editorias de Cláudia, Marie Claire, Manequim etc, se "combatia" com outro estereótipo machista, o da mulher "popular" transformada em "brinquedo sexual".
Era a luta da abóbora com o jerimum que em nada contribuiu com o feminismo e fez da "musa popular" uma aberração muito maior do que as "higienizadas mulheres" dos comerciais de detergente e das revistas femininas da mídia venal.
As musas siliconadas e tatuadas iriam contribuir para a "supercultura" sob a utopia de unir sensualidade obsessiva, provocatividade comportamental e autoafirmação feminina.
A única coisa que foi feita foi usar o politicamente correto para botar o machismo da hipersexualização para baixo do tapete.
A intelectualidade "bacana" quis criar "feministas populares" fazendo "revolução sexual", mas tudo resultou no reacionarismo "coxinha" de Ju Isen, Veridiana Freitas e Renata Frisson.
Não deu certo combinar Simone de Beauvoir e riot grrrrls com "funk" e glúteos empinados.
E isso é praxe no brega-popularesco que tentou-se criar, na música, um "popular demais" supostamente sofisticado e outro supostamente arrojado.
No primeiro caso, ídolos do "pagode romântico" e do "sertanejo", numa linhagem surgida da Era Collor de 1990, eram jogados para fazer uma suposta "MPB para o povão".
No segundo caso, ídolos do "forró eletrônico", "funk", "sertanejo universitário" e outros tentavam trazer o padrão MTV para o brega, supostamente hiperconectados com a modernidade.
Tudo fracassou. A "MPB de mentirinha" dos neo-bregas de 1990 queria criar Tom Jobins mais populares, mas produziu sub-arremedos de Julio Iglesias.
Já o pós-brega arrojado só deu no comercialismo mais explícito e radical de Luan Santana, Anitta, Wesley Safadão etc.
Não deu certo o pragmatismo da "supercultura" dos anos 90, que prometia culturas ao mesmo tempo comerciais, interativas, superinformadas e provocativas.
Tudo sucumbiu a um comercialismo voraz que emburreceu mentes, empobreceu culturas e deixou o povo mais alienado, vulnerável às retomadas ultraconservadoras que podem devastar o mundo.
Os EUA de Beyoncé e Guns N'Roses se esqueceu das tristes experiências com Richard Nixon e Ronald Reagan e apostou na vitória de Donald Trump.
O Brasil do "funk" e do "sertanejo" se esqueceu das tristes lições da ditadura militar e sucumbiu ao golpe jurídico-parlamentar de Michel Temer.
A festa interativa e sustentável dos anos 90 já ensaiou um fim com o atentado ao World Trade Center.
Agora confirma essa decadência com os rumos políticos ultraconservadores.
A ressaca saiu dolorosa, e bem mais do que se pôde imaginar.
É certo que houve a mediocrização cultural no Brasil e no resto do mundo.
Mas, oficialmente, era a "grandiosa supercultura" que nunca disse a que veio, mas tomou conta do establishment e queria tomar até mesmo os segmentos alternativos.
A utopia da "supercultura" foi um mito lançado nos anos 90 para transformar o mainstream em algo supostamente mais substancial, versátil e socialmente interatuante.
Na música, a combinação com elementos de tecnologia, com as coreografias cênicas, com os supostos ativismo e provocatividade comportamentais, tentaram dar o tom.
A grandiloquência de Ivete Sangalo no Brasil, ou a visibilidade de Beyoncé Knowles, ou a curtição sem limites de Justin Bieber também dizem muito dessa "supercultura".
É certo que midiotas e intelectuais "bacanas" muito se empenharam em reagir a qualquer crítica.
Afinal, eles acreditavam que o establishment cultural dos anos 90 criou paradigmas vigentes até hoje que prometiam uma síntese total de tudo o que era vivido pela sociedade.
Havia uma estrutura e uma mentalidade mercadológica para manter ídolos midiáticos em eterna evidência, eliminando a antiga sina de descartabilidade pelos modismos.
Uma elaboração musical que parecia linha de montagem, mas também seguia o Programa de Qualidade Total para minimizar qualquer tipo de crítica.
Em todo caso, tudo o que aparece nas listas de maiores sucessos da Billboard, Crowley ou nas FMs "só sucesso" em geral é "genial" e não se pode discutir isso.
Essa "supercultura", que não é só musical, mas comportamental, tentou unir comercialismo, ativismo, convencões sociais a serem reafirmadas com outras a serem relativamente rompidas.
Só que tudo isso caiu em sérias contradições.
Criou-se, em vários segmentos, um pop "popular", "juvenil", "roqueiro" ou "adulto" que fosse ao mesmo tempo comercial, dotado de muitas informações, muita atitude, tecnologia e interatividade.
Tudo se resultou em expressões inócuas, pouco expressivas, superficiais e repetitivas.
Querendo unir coreografia e atitude, o pop estadunidense esbarrou na catarse que, contraditoriamente, envolvia, por outro lado, os roqueiros que desviaram a antiga rebeldia para o mar revolto do ultraconservadorismo raivoso.
Os EUA de Beyoncé Knowles e Guns N'Roses eram um só, diante do pragmatismo sintético da "supercultura" dos anos 90.
Mas os EUA de Beyoncé fracassou em eleger Hillary Clinton, representante de um capitalismo moderado que, ao gosto estadunidense, é quase progressista.
E os EUA de Guns N'Roses, cuja música "I Used to Love Her" faz apologia ao feminicídio, desviou a rota do rock para o pragmatismo, o conformismo e o ultraconservadorismo que elegeu um reacionário como Donald Trump.
Os roqueiros perderam a capacidade de garimpagem, se contentando com os sucessos que servem para extravazar a agressividade.
Perderam a capacidade de questionamento, e, no caso do rock pesado, passou-se a aceitar os posers como filhos bastardos do rock clássico.
Tudo para garantir a fusão de espetacularização, humorismo e sensacionalismo que o metal farofa oferecia, completando o combo de "supercultura" que tentava fazer o rock "mais divertido".
Mas o rock não ficou mais divertido. Ficou chato, com aquele papo de ser "a melhor música do planeta" que, no Brasil, fazia boas rádios pop se converterem em rádios rock caricatas e ruins.
E sucumbiu a um conservadorismo retrógrado só por não se alinhar com o aparente populismo que viam nos governos petistas.
Mas problemas semelhantes ocorriam em outros âmbitos da "supercultura".
O que dizer das mulheres siliconadas?
Elas eram usadas pela intelectualidade "bacana" como contraponto à "sobriedade feminina" de classe média alta.
Só que tudo deu em fracasso, porque, para combater a "ditadura da beleza" às mulheres "de elite", usou-se a "ditadura da beleza" um tanto caricata às mulheres de "apelo mais popular".
Era apenas uma briga da cara com a coroa, na rinha de moedas: a "rainha do lar" dos comerciais de detergente e das editorias de Cláudia, Marie Claire, Manequim etc, se "combatia" com outro estereótipo machista, o da mulher "popular" transformada em "brinquedo sexual".
Era a luta da abóbora com o jerimum que em nada contribuiu com o feminismo e fez da "musa popular" uma aberração muito maior do que as "higienizadas mulheres" dos comerciais de detergente e das revistas femininas da mídia venal.
As musas siliconadas e tatuadas iriam contribuir para a "supercultura" sob a utopia de unir sensualidade obsessiva, provocatividade comportamental e autoafirmação feminina.
A única coisa que foi feita foi usar o politicamente correto para botar o machismo da hipersexualização para baixo do tapete.
A intelectualidade "bacana" quis criar "feministas populares" fazendo "revolução sexual", mas tudo resultou no reacionarismo "coxinha" de Ju Isen, Veridiana Freitas e Renata Frisson.
Não deu certo combinar Simone de Beauvoir e riot grrrrls com "funk" e glúteos empinados.
E isso é praxe no brega-popularesco que tentou-se criar, na música, um "popular demais" supostamente sofisticado e outro supostamente arrojado.
No primeiro caso, ídolos do "pagode romântico" e do "sertanejo", numa linhagem surgida da Era Collor de 1990, eram jogados para fazer uma suposta "MPB para o povão".
No segundo caso, ídolos do "forró eletrônico", "funk", "sertanejo universitário" e outros tentavam trazer o padrão MTV para o brega, supostamente hiperconectados com a modernidade.
Tudo fracassou. A "MPB de mentirinha" dos neo-bregas de 1990 queria criar Tom Jobins mais populares, mas produziu sub-arremedos de Julio Iglesias.
Já o pós-brega arrojado só deu no comercialismo mais explícito e radical de Luan Santana, Anitta, Wesley Safadão etc.
Não deu certo o pragmatismo da "supercultura" dos anos 90, que prometia culturas ao mesmo tempo comerciais, interativas, superinformadas e provocativas.
Tudo sucumbiu a um comercialismo voraz que emburreceu mentes, empobreceu culturas e deixou o povo mais alienado, vulnerável às retomadas ultraconservadoras que podem devastar o mundo.
Os EUA de Beyoncé e Guns N'Roses se esqueceu das tristes experiências com Richard Nixon e Ronald Reagan e apostou na vitória de Donald Trump.
O Brasil do "funk" e do "sertanejo" se esqueceu das tristes lições da ditadura militar e sucumbiu ao golpe jurídico-parlamentar de Michel Temer.
A festa interativa e sustentável dos anos 90 já ensaiou um fim com o atentado ao World Trade Center.
Agora confirma essa decadência com os rumos políticos ultraconservadores.
A ressaca saiu dolorosa, e bem mais do que se pôde imaginar.
Comentários
Postar um comentário