A decadência do Partido dos Trabalhadores nos últimos meses está sendo festejada pela direita nativa.
Um surto de reacionarismo pode até ter seus aspectos surreais, mas conseguiu conquistar o poder no Planalto.
Esse surto veio de um cenário sócio-cultural que incluiu desde os "fascistas mirins" das mídias sociais, comprometidos com práticas de cyberbullying, até um mercado literário que foge, por medo, da responsabilidade de transmitir conhecimento.
De repente, uma parcela da sociedade se achou no direito de despejar comentários racistas, machistas e antissociais, como a defesa da escravidão.
Um surto sadomasoquista, como muitos analistas consideram, de uma sociedade fascista que adora ver o Brasil se reduzir a um brinquedo para investidores estrangeiros.
As esquerdas erraram muito, e principalmente o PT.
Dilma Rousseff financiava a mídia venal que despejava campanha difamatória contra ela.
Dilma e Lula tornaram-se as únicas pessoas que se podia caluniar livremente, com pesadas ofensas e mentiras violentas publicadas na Internet.
É certo que o declínio do PT representa um sério desafio para as esquerdas, que precisam ter autocrítica para analisar falhas e debilidades.
Mas a verdade é que a direita, com seus verdadeiros psicopatas, gente capaz de qualquer besteira ou gafe para derrubar o PT, não reconquistou o poder por suas qualidades.
Tanto que até agora eles nunca mostraram algo de realmente positivo.
Inventam que "estão arrumando a casa", que o governo Temer "não é aquela maravilha, mas faz por onde" e tentam argumentar que a horripilante PEC 241 é "um sacrifício necessário em prol do desenvolvimento do país".
Os direitistas não conseguem esconder seu perfil elitista, mas se arrogam a dizer que eles "são o país".
Há muitos motivos para a queda do PT do cenário político, que podemos comparar a um escorregão.
A complacência com a imbecilização sócio-cultural de uma suposta "cultura popular" patrocinada pela mídia venal é um dos motivos subestimados para essa decadência.
Há outros, como Dilma Rousseff aceitar que se adotasse uma política econômica conservadora no início do seu segundo mandato, prematuramente encerrado.
Ou a visão das esquerdas ainda presa a velhas quimeras da Rússia de 1917 ou da Cuba de 1959.
Ou dar ouvidos aos falsos amigos dos esquerdistas, como Cabo Anselmo em 1963-1964 e os funqueiros nos últimos 15 anos.
Sem falar na "frente ampla" de direitistas como José Sarney, Fernando Collor e Paulo Maluf, para não dizer Jair Bolsonaro, Eduardo Cunha e Marco Feliciano, na base de apoio à centro-esquerda.
E, evidentemente, o financiamento público estratosférico à mídia venal, diante da ingenuidade de parte dos petistas de que isso fosse moderar a raiva oposicionista dos barões midiáticos.
Isso não apenas não moderou como acentuou a raiva, dando na saída de Dilma Rousseff no governo e o início do governo temeroso do tenebroso Michel Temer.
Diante disso, o PT amargou sucessivas derrotas, desgastou sua imagem diante da opinião pública e periga jazer ao lado do Movimento dos Sem-Terra no entulho político do imaginário neocon.
As forças progressistas tiveram seus avanços, mas suas debilidades.
Defenderam um consumismo com pouca cidadania, apoiaram uma "cultura popular" que, de tão caricata, nunca assustou os barões midiáticos (pelo contrário, eles apoiavam abertamente o "popular demais") e pouco avançaram nas frágeis conquistas sociais alcançadas.
Não imaginaram sequer que, um dia, teriam que avançar mais além da Bolsa-Família e do sistema de cotas para negros e índios, criando políticas mais aprofundadas de inclusão social.
Com isso, as esquerdas, a partir do PT, declinaram e deixaram uma direita sem qualidades positivas nem propostas consistentes chegar ao poder.
Uma direita que só se ascendeu pela catarse momentânea dos últimos tempos. Em muitos casos, "catarse" é uma espécie de vômito, de diarreia emocional de uma parcela da população.
Portanto, é uma direita que não tem segurança de garantir que trará resultados positivos para o Brasil.
Pelo contrário, sua performance, em diversos setores de seus membros, é confusa, contraditória, conflituosa e frouxa.
O Brasil de hoje nem pode levar a sério as alegações de "plena normalidade institucional" do governo Temer.
Isso porque o Brasil foi entregue a desordeiros ideológicos que só querem um país para as elites.
As esquerdas, de alguma maneira, deixaram de agir com coerência e lucidez, e deixaram o país ser entregue a estúpidos e hipócritas que só pensam por seus umbigos.
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