A foto mostra uma cena patética. O jornalista Caco Barcellos, da Rede Globo, agredido por um cone por grupos de radicais de esquerda que estavam no protesto de servidores, no Rio de Janeiro, ontem à tarde.
Um ato covarde, desrespeitoso, exagerado, intolerante e anti-democrático.
Barcellos é uma exceção na fauna venal que existe na Globo. Ele é um dos poucos profissionais da casa que acreditam que vale a pena trabalhar com jornalismo investigativo.
Seu Profissão Repórter pode até ter eventuais senões, mas parte de uma ideia boa.
Um repórter que se torna também chefe de redação de uma equipe de repórteres. Um laboratório de jornalismo aparentemente pequeno, mas dinâmico e atuante.
Ao mesmo tempo que Caco Barcellos mostra seu trabalho, ele orienta seus repórteres que também desempenham seu trabalho.
É, portanto, uma demonstração de jornalismo honesto, que procura se manter na fidelidade dos fatos.
O Profissão Repórter é exceção da mídia venal que corrompeu o sentido de jornalismo investigativo.
Só para se ter uma ideia, "jornalismo investigativo", para a revista Veja e, recentemente, para a Isto É, é apenas uma desculpa para lançar factoides como matéria de capa para desqualificar desafetos políticos, sobretudo PT e não raro com mentiras descabeladas.
O Profissão Repórter não é assim. É um esforço de fazer jornalismo honesto, ainda que de vez em quando certas pautas soassem inconvenientes.
Algumas edições eram dedicadas a músicas brega-popularescas, no auge das pregações da intelectualidade "bacana" pela "etnografia de mercado".
Outra edição focalizou um suposto "médium espírita" que se diz curandeiro mas teve medo de fazer auto-cirurgia para se curar de um câncer.
Mas isso não é motivo para Caco ser vaiado e hostilizado como foi.
Ele não cometeu os pecados da imprensa que tietou Michel Temer, como os compadres e comadres que participaram daquele convescote que era a edição do programa Roda Viva (TV Cultura) com o temeroso presidente.
Portanto, Caco não pode ser vaiado e hostilizado como se pagasse os pecados dos jornalistas venais.
Se bem que nenhuma hostilidade é saudável.
Talvez vaias, sim. Mas agressões físicas já são o cúmulo da intolerância.
O mais curioso é que Caco Barcellos, quando foi hostilizado durante as passeatas de 2013, foi socorrido por um ex-político linchado pela mídia venal, o ex-presidente do PT, José Genoíno.
Genoíno era entrevistado por Caco Barcellos quando houve as agressões.
Genoíno protegeu Caco e o enviou para um lugar seguro.
Na manifestação recente, Genoíno estava ausente. E Caco teve que se virar fugindo ele mesmo para um lugar mais seguro.
Que o Brasil vive uma convulsão social, isso é verdade.
Mas isso não é motivo para que um jornalista competente, só pelo detalhe casual de trabalhar num veículo tradicionalmente reacionário, seja agredido.
Há profissionais competentes na Globo e eles merecem ser respeitados.
Sejam atores, jornalistas e inúmeras outras funções.
Eles nem sempre refletem os interesses dos donos das Organizações Globo nem das elites que atendem aos interesses plutocráticos dos patrões maiores.
São apenas contratados da Globo e possuem autonomia de ação.
É como acontece, por exemplo, nos esquerdistas que escrevem para a Folha de São Paulo.
Cabe, portanto, maior civilidade entre aqueles que protestam contra a Rede Globo e o governo Temer.
As melhores manifestações são aquelas que primam pela criatividade e não pela agressão.
Vide as ocupações pacíficas dos estudantes nas escolas, contra os projetos do governo temeroso contra a Educação.
É com inteligência e respeito que se pratica o melhor ativismo.
De preferência deixando repórteres sérios como Caco Barcellos realizar o seu trabalho de informar a sociedade.
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